Fonte: www.tdvadilho.com
Lettering É Noite de Filme de Terror. Letras mais quadradas, brancas com borda roxa, dispostas de forma brincalhona, torta Background do título. Abstrato, como uma tempestade de areaia.Roxo, amarelo, verde, vinho e azul

Contos ( A10 )

  |   Fantasia

 |  25 minutos

Parte I

Sentado no beiral da janela, William soltava fumaça ao ar. Aquele era o seu 5° maço do dia; nicotina o ajudava a não cochilar.

“Alguém mais gostaria de compartilhar algo conosco esta noite?”, lembrou-se. Que pergunta desgraçada; e que infeliz iniciativa de falar. Agora tudo o que vinha em sua mente era a sugestão de uma facilitadora delirante que jamais deveria conduzir uma reunião de anônimos aos quais William gostava de tratar por socialmente disfuncionais e sem quaisquer chances de se encaixar.

Sandman… Sandman…

Aquilo foi mesmo sério? Quer dizer: aquela mulher realmente não deveria conduzir nada lá. A não ser que se leve em conta o fato de que cuidamos melhor daquilo que entendemos… nesse caso, aquela reunião anônima era exatamente o que ela deveria facilitar.

William riu da ironia e deixou a nicotina entrar.

Mas… E se? Sabe?

E se?

Seria loucura, ao menos, considerar?

É, talvez…

Mas talvez loucura mesmo fosse não tentar.

Imagem para a historieta 'Sonhos são Feitos de Areia', disponível gratuitamente no site www.tdvadilho.com - © 2023 TD VADILHO (www.tdvadilho.com) -noai-noimageai

Caneca com a arte disponível na loja.

O homem deu a última baforada, e atirou a bituca do cigarro ao ar; e enquanto o primeiro raio de sol se recolhia, William pegou um punhado de areia do vaso sob o hack e, pela primeira vez em anos, procurou o conforto de sua cama para se deitar.

Não foi nada difícil cair no sono; afinal, eram milhares de noites sem descansar. William sempre sobrevivera em estado de vigília forçada, por conta de pesadelos que se negavam a deixá-lo de importunar. Era como se sua mente fosse a hospedeira perfeita, para todo e qualquer pesadelo se alojar. Eles sugavam tanto a fibra do seu ser, que não seria exagero algum considerá-lo alguém muito mais pra lá do que pra cá.

Depois do que se pareceu menos de um segundo — se é que isso é uma quantidade de tempo possível de se notar —, um sonho deveras real se formou; e William se percebeu em cima de uma duna, no meio de um deserto costeiro, onde a neblina era constante, e o frio parecia se fazer presente o tempo inteiro. No chão, em frente aos seus pés, uma máscara persona se encontrava jogada, e, a não mais do que 500 metros dali, as luzes de um enorme castelo cintilavam.

Todo mundo sabe que Sandman dorme o dia inteiro — murmurou para si mesmo —, porque a chegada da noite é o seu chamado para atuar.

A facilitadora havia lhe dito isso. A facilitadora havia lhe contado tudo o que sua cabeça não conseguia mais deixar de pensar.

Ao dar o seu primeiro passo na duna, uma forma disforme, da areia, brotou. Os grãos que a compunham rodavam em torno de um mesmo ponto e, o que quer que fosse aquilo, vestiu a persona e lhe perguntou:

Trouxe o tributo?

William acenou. E depois, como se fosse óbvio, estendeu a mão e o punhado de areia liberou. Não tudo de uma vez, oh não; porque isso seria muito errado. Will apenas separou os dedos de leve, e deixou a gravidade agir ao seu lado.

Está pago.

Foi tudo o que a forma falou.

William deu um passo tímido para o lado, esperando que ela tecesse qualquer comentário, porém a figura nem sequer uma reação mostrou. Ela já tinha cumprido o seu papel e, de qualquer modo, havia algo muito mais interessante na areia que ele soltou

O homem deu de ombros e prosseguiu com o seu caminhar; e, quando já estava na metade do trajeto, a figura ao fundo cedeu de volta às dunas, deixando a máscara cair sobre um punhado de areia cinzenta que ficara acumulado no lugar.

Parte II

O portão do castelo estava entreaberto, e não havia ninguém de prontidão para o guardar. William então entrou direto, e imediatamente se impressionou com o lugar. Era um corredor interminável de portas, de onde criaturas atravessavam pra lá e pra cá. Todas elas reparavam em Will, porém, nenhuma delas parecia se incomodar.

William continuou pelo corredor, até uma mulher encontrar. Se bem que mais parecia uma gigante, com algo como 2 metros e tralalá. De qualquer modo, ele logo soube que era ela quem organizava as coisas por lá; afinal, a gigante era a única criatura com um microfone de cabeça e uma prancheta em mãos; sem contar o fato de que era ela quem parava de porta em porta, dando recados e atribuindo, a cada um, a sua função.

Com licença — chamou William.

Um segundo, querido — respondeu a gigante. — O sapato do troll está pronto? Como assim só um pé? Já vai fazer sete meses que estamos esperando! Não. Quer saber: ele que se vire para lidar com você. Tô farta disso. Chega. Não vou mais me estressar — disse ela para um homem de cerca de 40 centímetros que amarrou a cara e saiu batendo o pé de lá. — Leprechauns… — comentou voltando-se para William. — Ótimos sapateiros; se você tiver tempo de sobra para esperar… Sete meses para um pé. Dá pra acreditar?!

William pensou em qualquer coisa e abriu a boca para comentar. No entanto a mulher logo voltou a falar:

Desculpe, querido, mas não tenho tempo para conversas. Estamos entrando no terceiro NREM agora. Sinto muito, mas não dá. É o seguinte: você está no caminho certo. É só seguir o corredor, toda vida mesmo, não tem como errar. Agora com licença, ainda tenho mais 120 sonhos para organizar.

A mulher gigante não esperou por agradecimentos; apenas posicionou o microfone mais perto dos lábios e partiu a passos largos em direção às salas restantes. Enquanto isso, a passos curtíssimos e carregando um sapato seis vezes maior do que deveria calçar, o leprechaun se esforçava ao máximo para conseguir alcançá-la, provavelmente para protestar.

William ignorou a dificuldade do leprechaun e seguiu caminho conforme a gigante acabara de lhe indicar; andando pelo que pareceram horas e horas, até a uma cortina ele, enfim, encontrar.

Por trás da cortina, através de uma fresta, William viu um palco de madeira, praticamente coberto por areia, em que uma sereia cantava com sua cauda ‘verde-escamosa’ a balançar. Sua voz era linda, aveludada, doce como o próprio mel; e William se sentiu em transe, enfeitiçado, até que palmas admiradas saíram do único ser da plateia e o buscaram na sua distração.

Maravilhoso, Yasmim — elogiava o ser. — Como sempre. Maravilhoso!

Sandman, concluiu William.

A sereia se virou para a cortina, deu tchau para William e, com um impulso, mergulhou no mar de areia e desapareceu. Em seguida, um estalo foi ouvido, e a luz de um refletor acendeu.

Essa é a sua deixa — informou Sandman.

Porém a cortina nem sequer mexeu.

Não seja tímido. Tome o palco. Ele agora é todo seu!

Timidez talvez não fosse a melhor palavra para descrever o que William sentia atrás do véu. Na realidade estava mais para uma mistura estranha, de familiaridade e aversão, a qual o repelia e, ao mesmo tempo, lhe fazia sentir uma enorme atração.

Fosse como fosse, William atravessou o véu do teatro e caminhou até o ponto de iluminação.

O que busca em meu reino, humano? — perguntou o Senhor dos Sonhos, ou o próprio Sonho, como a facilitadora dos anônimos lhe contara na reunião.

Eu vim te desafiar — respondeu William, certeiro.

Um desafio? — surpreendeu-se. — Que maravilha! Há séculos esperei pela volta dos desafios de humanos de pouca sensatez.

Sandman levantou-se e, a passos lentos e confiantes, como em um desfile importante, retirou os óculos escuros e começou a se aproximar. E foi então que William viu, nas íris do próprio Sonho, milhões e milhões de grãos de areia orbitando, como se toda a criatividade do universo estivesse reunida em seu olhar.

Pois muito bem, humano. Diga-me qual é o desafio.

“Escolha o Pesadelo", lembrou-se William. “É a única chance que você tem de ganhar.”

Eu te desafio ao Pesadelo — revelou.

Sandman se desfez, como quando uma pedra de areia é pressionada até se esfarelar, e, em seguida, se refez ao lado direito do desafiante, parecendo bastante ansioso para começar.

E o que quer pela vitória? — perguntou ele. — Meu trono? Meus olhos? Ou a personificação de um sonho com o qual não consegue parar de sonhar?

Apenas um punhado da sua areia — respondeu Will. — Nada mais.

Sandman se desfez e, logo em seguida, se refez, levando o ombro esquerdo de William a retesar.

E o que está disposto a arriscar? — perguntou.

“Só existe uma coisa pela qual Sandman se interessa”, lembrou-se o humano:

Lethargicus — respondeu.

O sono eterno… — articulou Sandman, sentindo o gosto de cada sílaba lhe tomar.

William confirmou.

É justo — concordou o Senhor dos Sonhos. — Pois o Pesadelo então será! — anunciou.

De todas as entradas possíveis do teatro, criaturas começaram a chegar. William reconheceu o leprechaun, o sapato e a sereia; e depois teve que se abaixar para evitar o rasante de um teco-teco descontrolado que procurava algum lugar para pousar.

Pouco depois a areia acumulada no tablado girou, e, após o choque entre os grãos, e uma pequena explosão, Sandman trouxe ao palco uma mulher de pijama listrado que, com os olhos praticamente cerrados, estava mais do que pronta para sonhar.

Hm? — murmurou ela depois de pescar. — O q-quê?

Não se assuste. É apenas um sonho — acalmou-lhe Sandman, antes de soprar-lhe areia nos olhos e levá-la a dormir ali mesmo, de pé e no meio do alvoroço daquele local.

Um sonho que carregava uma tocha acesa então se deslocou em direção ao palco. Era uma espécie de pintura rupestre humana ambulante, que aparentava ter milhares de anos acumulados nas costas e mais outros milhares escondidos para dar de trocado.

Sejam todos bem-vindos ao Jogo do Pesadelo! — disse a pintura rupestre, levando a plateia ao delírio. — Eu serei a juíza imparcial deste solene evento e, pela areia que me produziu, juro garantir a legitimidade desta partida. Aos sonhos antigos, peço que se calem por um instante; temos sonhos novos que ainda não tiveram a honra de presenciar um evento desta magnitude e, portanto, ainda não compreendem como ele funcionará.

“Aos novos sonhos, atenção: cada participante receberá um pequeno punhado de areia e isso será tudo o que poderão usar. A areia reproduzira os pensamentos de cada um deles na mente da convidada, e aquele que a acordar de pavor será quem vai ganhar. Estamos de acordo?” — perguntou ela aos dois.

William acenou, enquanto Sandman fez questão de brincar:

Perfeitamente, Fótia. Sua rigidez com as regras é — beijou os próprios dedos da mão — belíssima.

Devo atribuir isso ao senhor. Eu acho…

Oh! — exclamou Sandman fingindo timidez.

Fótia revirou os olhos. Já havia escutado a mesma piada tantas vezes que não compreendia como Sandman ainda tinha a coragem de contá-la. De qualquer forma, Fótia, o primeiro sonho dos homens, levou a bolsa para que cada um dos dois pudesse pegar o seu punhado de areia.

Muito bem — disse Fótia. — William, por favor, queira começar.

Ainda que não tivesse qualquer certeza do que fosse fazer, William se aproximou do centro do palco, levou o punhado de areia que lhe lembrava as cinzas de um cigarro à altura dos lábios, fechou os olhos e começou a se concentrar. Foi então que, na sua mente, imagens de pesadelos passados começaram a brotar. Eram sonhos de brigas, e de humilhação; eram sonhos de abandono, e de solidão; eram sonhos terríveis que o paralisavam, mas que, principalmente, lhe causavam enorme aflição.

Focar em algum dos pesadelos era uma tarefa impossível. Há anos essas imagens parasitavam a sua mente, acabavam com o seu sossego e impunham-lhe a aversão. William até tentou se segurar, quando notou o corpo todo começar a formigar, porém a pressão era tanta que ele precisava desesperadamente liberar.

E assim ele fez.

Will abriu a boca e soprou a areia na direção de uma inocente que, até aquele instante, dormia de pé, no palco, com toda a mansidão. E foi neste instante que tudo instantaneamente aconteceu.

A areia que estava espalhada pelo tablado retraiu-se de desespero. As luzes do castelo apagaram, só ficando acesso o refletor do meio. E os sonhos do palco se calaram, completamente congelados pelo medo. A mulher de pijama arregalou os olhos e gotas de suor começaram a surgir pelo seu corpo inteiro; e então todos esperaram por um grito profundo, porém ele jamais veio.

Sandman agachou em seu lugar, intrigado e admirado com o resultado do pesadelo; e enquanto William se afastava, assustado, o Senhor dos Sonhos abriu um sorriso tão largo, que um pouco de areia começou a fugir, por conta própria, pelos cantos de sua boca para se esconder do pesadelo.

Paralisia do sono — comentou Sandman. — Por essa eu não esperava…

Will nada falou.

É filho dela, não é? — perguntou o Sonho, soltando a gargalhada presa no peito.

Dela quem? — perguntou William.

Melas Oneiros — articulou Sandman.

Perdão?

A Senhora dos Pesadelos.

Até onde considerava, William nunca tivera uma mãe. Era mais fácil acreditar nisso do que ter que lidar com toda a questão do abandono que crescer em um orfanato costuma manifestar. Então, descobrir que sua mãe era a Senhora dos Pesadelos não representou nada além de um esclarecimento para a sua condição.

Senhor — interrompeu Fótia —, é preciso que pare o pesadelo.

Não está com medo de que eu o deixe escapar? Está?

De forma alguma, senhor. É com a convidada que me preocupo.

Sandman bufou.

Está bem, está bem… Eu desisto — murmurou.

O Senhor dos Sonhos então se aproximou do centro do palco e, em seguida, virou para trás.

Venham, medrosas — disse ele para os grãos de areia que haviam escapado pelo seu sorriso. — Você também — completou.

Eu? — perguntou William.

Mas é claro, sobrinho — falou sorrindo. — São seus pesadelos, sua areia e… vejamos: sua responsabilidade?

Fótia confirmou.

Se a Fótia confirmou, tá confirmado.

William apenas aceitou e se juntou a Sandman, que fez com que a areia os envolvesse e os levasse para dentro da mente da mulher.

Parte III

Uau! Você acabou com ela, hein? — comentou Sandman, brincando com as cinzas que se instauraram no lugar. Mais à frente também havia um castelo, porém esse era cinzento e com grades em todo o lugar.

Will sentiu-se desconfortável.

Tem algum jeito de reverter? — perguntou ele.

Oh sim — respondeu o Sonho. — Sempre tem.

Ótimo.

Não é? Vem, vamos.

O castelo é pra lá — corrigiu William.

Eu sei. Mas existem certas regras, entende? — falou o Sonho, guiando Will para o lado de lá. — Eu não posso simplesmente entrar em um território de pesadelos e blá blá blá… Acaba gerando discussão, que resulta em guerra, e aí os humanos acabam sendo afetados por uma tal de Epidemia do Sono, seja lá quem for esse coitado do Sono que leva a culpa, e o pior de tudo é que a Fótia fica estressada e não para de reclamar.

Ahh…

Bom, pelo menos o cheiro para onde estamos indo não é fétido como o de cá. Deserto de cinzas… — disse Sandman dando algumas fungadas. — Me lembra o cheiro de peixe estragado, misturado com o cheiro da fumaça do cigarro no ar.

A cabeça de Will começou a rodar com o tanto de informação, porém Sandman ainda tinha mais para falar:

Falando em peixes, você conhece a parábola sobre dar o peixe e ensinar a pescar?

Você vai me ensinar a pescar pesadelos? — perguntou William.

Quê?!

Nada — disfarçou —, deixa pra lá.

Você precisa dormir — riu o Senhor dos Sonhos.

William realmente precisava.

Os dois então aceleraram o passo e só pararam quando o castelo, já bem distante, parecia uma outra duna cinzenta qualquer.

Finalmente — disse Sandman —, chegamos.

Areia normal — comentou William. — Era isso que estava procurando?

Exatamente — respondeu o Sonho. — Areia normal, território neutro. Tanto eu quanto sua mãe podemos atuar.

E o que você vai fazer?

Sandman puxou um punhado da sua areia do bolso e no mesmo instante sua feição ficou séria. Era uma areia diferente, uma areia dourada, uma areia que chegava, inclusive, a brilhar; e o cheiro… ahh… o cheiro fez William literalmente chorar.

Essa areia é sua por direito — disse o Sonho, estendendo a mão. — E por isso eu estou te dando a opção de pegar.

Will engoliu em seco e seus dedos logo começaram a formigar.

Qual é a pegadinha? — quis saber.

Nenhuma — respondeu Sandman. — Sem repreensão ou julgamentos. Ninguém vai ficar sabendo. É só você pegar.

O homem cerrou os punhos.

Você não quer? — insistiu o Sonho.

William não respondeu a pergunta, porém fez outra no lugar:

O que acontece se eu ceder a essa tentação?

As cinzas vão se espalhar e, se ela sobreviver, terá uma vida como a sua.

Então dê a areia a ela — respondeu William.

Tem certeza? Francamente, sua mãe pode ser o próprio Pesadelo, mas, no fundo, você e essa mulher são apenas humanos; e um humano a mais, um a menos… — contraiu os ombros — para mim e para o grande esquema das coisas tanto faz.

William sentiu a repulsa ao comentário subir pela sua garganta e a resposta que foi dada carregou todo esse gosto ácido no seu tom:

Tenho. Eu sei o que é ser humano e não sonhar.

Se essa é a sua decisão…

Sandman deixou a areia dourada cair sob a neutra e se afastou para observar.

Como em uma valsa escandinava, ambas as areias começaram a rodar, rodar e se misturar; e o brilho da dourada foi sendo passado adiante, como se os seus grãos estivessem ensinando os outros sobre o sonhar. E foi dessa mistura ‘valsante’ que um exército então se materializou; armado apenas com escudos, os sonhos dourados fecharam o cerco em torno da areia cinza que se alastrou.

Isso não vai começar uma guerra? — quis saber William.

Não — respondeu Sandman. — Esse é apenas um exército de contenção, só tem efeito se a pessoa realmente quiser sonhar.

Então o que está no castelo de areia cinza vai continuar?

Vai. Mas a ideia é que a mente dela continue espalhando a areia dourada até que essa porção cinza se torne tão ínfima que nenhuma influência terá.

Entendi — falou William, aliviado pela mulher e bastante incomodado por ainda estar lá. — Podemos sair então? Quero acordar.

Se acordar nunca mais poderá voltar ao meu reino. Os seus pesadelos não vão deixar — respondeu. — E além disso, a nossa convidada ainda está muito suscetível ao medo; preciso ficar aqui até tudo se estabilizar.

Achei que não ligasse para os humanos.

Sandman abriu o seu largo sorriso e decretou o fim da cena, dizendo:

Eu ligo para tudo aquilo que sonha. Assim como para tudo aquilo que queira sonhar.

Então porq-

Porque eu precisava te testar. Não posso sair por aí distribuindo sonhos a torto e a direito, não é? Principalmente o sonho ao qual eu vou te associar.

E qual é?

O primeiro que eu criei — revelou Sandman, puxando outro punhado de sua areia dourada. — Aquele que permitiu que os humanos saíssem da escuridão. Aquele que permitiu que os humanos começassem a sonhar.

A gigante do microfone?

Quê?!

Nada.

Depois de gargalhar, o Senhor dos Sonhos dividiu o punhado de areia em duas partes, entregou uma a William e levou a outra à altura dos lábios.

Carregue a areia com cuidado. Ela é muito medrosa e o que mais tem na sua cabeça são pesadelos para a assustar.

William acenou.

Tenha bons sonhos, William — desejou Sandman, soprando o restante dos grãos dourados. — Faz bem para a alma sonhar.

Parte IV

Fótia! — chamou Will ao reconhecê-la em meio aos quilômetros e mais quilômetros de dunas cinzentas que ocupavam a sua mente.

Nunca saia de perto da minha chama — avisou ela. — Os pesadelos estão à solta aqui; o seu deserto é muito mais complicado do que do que possa imaginar.

Mas ainda tem como reverter, não é? — perguntou ele apreensivo.

Sempre tem — respondeu Fótia. — Basta apenas não deixar essa areia escapar.

William pressionou ainda mais a mão em torno dos grãos medrosos que carregavam toda a sua esperança de melhorar.

Epílogo

Dois anos mais tarde, um oásis foi encontrado no meio da vastidão de pesadelos.

Quatro anos mais tarde, William pode, enfim, sonhar.

asssinatura TD Vadilho

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